quinta-feira, 7 de junho de 2012

É uma mera existência
E à sua volta voam moscas,
Deliciadas com a podridão de um ser
Que já não o é.
Vê o mundo girar
Sem contar os dias,
Ou as horas,
Ou os minutos.
Canta letras tristes que o alegram
Porque não há música mais triste que a sua.
Nem tem quem o oiça cantar,
Nem tem quem aprecie a sua melodia...
E às vezes quer berrá-las,
Quer que o oiçam,
Precisa que o oiçam.
Ainda assim, sorri com pouco,
E as coisas pequenas deixam-no menos mal...
E, de entre toda a solidão,
De entre todo o silêncio,
Há esperança, há sempre mais um esgar de felicidade
Ainda que mal disfarçada pela exaustão
De uma espera que se arrasta,
Num tempo que parece não se gastar.
Como uma ampulheta sem nexo,
Que vai sendo virada a tempo marcado,
Sem deixar que o último grão de areia,
A última marca desse tempo que não passa,
Caia para que se misture
Deixando-o tão só e tão perdido no tempo
Quanto ele próprio.
Vagueia, sem rumo,
À procura de um lugar à sombra,
Onde possa apreciar o seu silêncio
- a única coisa fiel que lhe resta.
Acende mais um cigarro e deixa-se intoxicar...
Perde-se numa nuvem de fumo
E ninguém mais o vê,
Como sempre.