“Sentado numa esplanada escondida entre árvores, aproveitando os primeiros dias frios de final de Outono, um solitário rapaz de olhar cravado no nada, em que se notava uma ínfima réstia de esperança, talvez carinho por poder dar. Quem o visse ali, sozinho, de expressão séria, poderia pensar que estava apenas distraído, pensativo ou apenas entretido com os seus próprios pensamentos. Enquanto tira um cigarro do maço quase vazio de tantas horas ali sentado e o acende, puxando o fumo claramente como desculpa para um profundo suspiro, entoado quase como um suspiro de frustração. No fundo, o rapaz aprecia o breve isolamento que aquela esplanada lhe oferece, às vezes sente-se livre para apreciar a beleza dum final de tarde de Outono, observando as folhas amarelas e escarlates enquanto tocam o chão, enquanto voam como pequenos papéis ao vento, enquanto se desfazem sob os pés das crianças que brincam no parque. De vez em quando, fecha os olhos e ouve apenas os silvos do vento entre as folhas, o som das crianças a rir, o som mudo das palavras sussurradas baixo pelos namorados, curioso pelo que estarão a dizer um ao outro. Deixa-se envolver pelo cheiro a café no ar, misturado com o seu fumo, deixando-o bem disposto, descontraído. A tarde arrefecia, o vento já incomodava. Fechou um pouco mais o seu blusão e apagou o cigarro. Partia do seu hábito, contando as folhas que pisava pelo caminho. Nessa altura vê uma criança sentar-se na sua bicicleta, ainda com rodas de apoio, com aspecto de ser nova em folha e pronta a usar pela primeira vez. Na sua cara, via-se uma felicidade amedrontada, aliviada pelas palavras do avô, que presumiu que fossem uma promessa de que não a deixaria cair. Lembrou-se do seu próprio avô, um senhor baixo e de cara enrugada, quase careca, que transmitia a ideia de ser incansável, que em todas as situações era quem permanecia calmo… E do dia em que ele próprio aprendeu a andar de bicicleta. Sorridente, parte nostálgico, lembrando-se.”
(trabalho para a cadeira Produção do Português Escrito)
Nostalgia.
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